data-filename="retriever" style="width: 100%;">No final dos anos 1970, residi por pouco mais de dois anos em Curitiba para fazer minha especialização em Ecologia no Departamento de Biologia da Universidade Federal do Paraná que, pouca gente sabe, foi a primeira universidade brasileira criada (fundada em 1912). Foi também um período em que muito frequentei o teatro Guairinha (o teatro Guaira, maior, estava em reformas por causa de um incêndio) e o teatro Paiol.
Muitas vezes, fui a São Paulo naquela época, nos fins-de-semana, também para assistir peças de teatro, musicais, lançamentos de filmes e até me abastecer de livros novos. A inflação era de menos de um por cento ao ano, era uma época de ouro para um professor universitário se especializar e entrar de cabeça em atividades culturais, coisa impensável nos dias atuais.
Anos depois, já aposentado, por dez anos morei na praia de Canasvieiras, em Florianópolis. Embora com menos frequência, sempre que podia e o dinheiro permitia dava uma esticada rápida a São Paulo que, a meu juízo, continuava (e continua) imbatível em termos de acontecimentos culturais. Numa das idas à capital paulista fique sabendo da existência da chamada "Casa do Saber".
No site da mesma está bem clara as razão da existência da mesma : "é um centro de debates e disseminação do conhecimento em São Paulo, que oferece acesso à cultura de forma clara e envolvente, porém rigorosa e fiel às obras dos criadores. Num ambiente extra - acadêmico, a Casa do Saber oferece cursos livres, palestras e oficinas de estudo nas áreas de artes plásticas, ciências sociais, cinema, filosofia, história, música e psicologia, reunindo renomados professores e conferencistas. As palestras e os cursos, estes com duração de um a seis meses, apresentam o diferencial de serem ministrados em pequenos grupos, para promover a troca de ideias e maior interação entre os participantes e os mestres."
Para exemplificar, porque minha memória é excelente : na semana que começou em 19/maio/2010, a Casa do Saber programou palestras e debates sobre o tema "saudade". E analisaram a "saudade" sob os pontos de vistas antropológico, filosófico, literário e poético. Os palestrantes eram Roberto Da Matta e Moacyr Scliar.
Eu tenho as minhas reservas com São Paulo, mas tenho de reconhecer o seu gigantismo cultural, seu cosmopolitismo, as iniciativas envolvendo literatura, pintura, escultura, cinema, teatro, dança. Enfim, a coragem de colocar em pauta temas ousados.
Eu tenho escrito muito a respeito de memorialística, recordado coisas, exercitado meus neurônios. E lhes asseguro que existe um público imenso que adora ler e trocar ideias, fazer sugestões e críticas sobre temas que envolvam saudosismo. Eu sei pelo número de e-mails, telefonemas que recebo e até bilhetes e recados que deixam na portaria do condomínio onde moro. Os que acham que serão jovens para sempre nem se dão conta que o Brasil está se transformando, proporcionalmente, num dos países com uma fatia assombrosa de idosos em sua população.
Afinal, em qual cidade do país a gente pode sair e avisar em casa que vai demorar um pouco porque vai ouvir conferência e discutir o tema "saudade"? Em qual cidade existe uma "Casa do Saber" aberta ao público gratuitamente?